segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Os potes...

Todos nós temos pesadelos...

Os meus têm-me acompanhado a vida inteira.

Deixo-vos aqui um dos mais antigos que me recordo.

Entrei no sotão. Ia à procura da minha mãe, que, por vezes, estendia lá a roupa. Estava frio e escuro.
Depois de já ter atravessado metade do sotão apercebi-me que a minha mãe não estava lá e senti algo atrás de mim. Não sei se conhecem a sensação... algo de errado, que nos faz arrepiar e sentir que está alguma coisa atrás de nós, a observar-nos. Lentamente virei-me para trás e  no chão estavm uns potes de barro grandes, com tampas. Os potes não eram nossos. E no silêncio da escuridão daquele sotão ouvi risos. Risos sombrios. Olhei à minha volta, mas não demorei a perceber que o som vinha de dentro dos potes. E conforme fixei o olhar neles, as suas tampas de loiça começaram a tremer. a tremer, até saltarem dos sitios.

A partir daí não me lembro de mais nada. Terei acordado nesse instante? Ou o que estava dentro dos potes teria sido tão assustador para mim (que era uma criança) que o meu inconsciente decidiu mantê-los longe da minha memória?

terça-feira, 6 de novembro de 2012

O Medo


A minha avó e o meu avô tiveram sete filhos e viveram num lugarejo da serra cujo número total de habitantes podia ser contado pela casa dos meus avós e pela casa da Tia Amélia, mais acima. No vale, mais abaixo, passava uma ribeirita rodeada de canas e mato, que separava as hortas (quintas, diziam as gentes daquele tempo) da ribeira. Naquele tempo vivia-se do que os campos davam…

Foi numa noite de Inverno, já tarde, já com a família toda em casa à volta do fogo, que aquilo aconteceu. Os meus avós e os sete filhos ficaram em silêncio a tentarem perceber o que estavam a ouvir… Um choro baixinho, como o de uma mulher, que vinha dos caniços que rodeavam o rio… O meu avô levantou-se e abriu a porta… o choro ouvia-se agora mais nitidamente, num queixume constante entrecortado por dolorosos gritos….

- Deve ser um dos pequenos da Tia Amélia, que se perdeu lá para baixo. – disse ele, enquanto punha o  chapéu.  Saiu e subiu a ladeira em direção à casa da vizinha. Bateu e logo apareceu à porta a face envelhecida da Tia Amélia.

- Oh Tia Amélia, não será um dos seus  garotos que andará perdido lá para baixo?- perguntou o meu avô.

Os gritos vindos da ribeira ouviam-se agora mais intensamente que nunca, e já não parecia um choro humano… A mulher fixou nele um olhar triste e respondeu-lhe:

- Não, os meus filhos graças a Deus estão todos em casa… O que lá anda é o medo… e anda a chamar alguém… vá pra casa António, antes que o apanhe a si…

O meu avô foi para casa e fechou a porta à chave. “Aquilo” chorou toda a noite e durante as três noites que se seguiram.
 
 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Bem-vindos...

Este é um blog para se ler à  noite, sozinho e de preferência com as luzes apagadas... mas pode deixar uma vela acesa, se quiser...