Todos nós temos pesadelos...
Os meus têm-me acompanhado a vida inteira.
Deixo-vos aqui um dos mais antigos que me recordo.
Entrei no sotão. Ia à procura da minha mãe, que, por vezes, estendia lá a roupa. Estava frio e escuro.
Depois de já ter atravessado metade do sotão apercebi-me que a minha mãe não estava lá e senti algo atrás de mim. Não sei se conhecem a sensação... algo de errado, que nos faz arrepiar e sentir que está alguma coisa atrás de nós, a observar-nos. Lentamente virei-me para trás e no chão estavm uns potes de barro grandes, com tampas. Os potes não eram nossos. E no silêncio da escuridão daquele sotão ouvi risos. Risos sombrios. Olhei à minha volta, mas não demorei a perceber que o som vinha de dentro dos potes. E conforme fixei o olhar neles, as suas tampas de loiça começaram a tremer. a tremer, até saltarem dos sitios.
A partir daí não me lembro de mais nada. Terei acordado nesse instante? Ou o que estava dentro dos potes teria sido tão assustador para mim (que era uma criança) que o meu inconsciente decidiu mantê-los longe da minha memória?
O Canto do Medo
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
terça-feira, 6 de novembro de 2012
O Medo
A minha avó e o meu avô tiveram sete filhos e viveram num
lugarejo da serra cujo número total de habitantes podia ser contado pela casa
dos meus avós e pela casa da Tia Amélia, mais acima. No vale, mais abaixo,
passava uma ribeirita rodeada de canas e mato, que separava as hortas (quintas,
diziam as gentes daquele tempo) da ribeira. Naquele tempo vivia-se do que os
campos davam…
Foi numa noite de Inverno, já tarde, já com a família toda
em casa à volta do fogo, que aquilo aconteceu. Os meus avós e os sete filhos
ficaram em silêncio a tentarem perceber o que estavam a ouvir… Um choro
baixinho, como o de uma mulher, que vinha dos caniços que rodeavam o rio… O meu
avô levantou-se e abriu a porta… o choro ouvia-se agora mais nitidamente, num
queixume constante entrecortado por dolorosos gritos….
- Deve ser um dos pequenos da Tia Amélia, que se perdeu lá
para baixo. – disse ele, enquanto punha o chapéu. Saiu e subiu a ladeira em direção à casa da vizinha.
Bateu e logo apareceu à porta a face envelhecida da Tia Amélia.
- Oh Tia Amélia, não será um dos seus garotos que andará perdido lá para baixo?-
perguntou o meu avô.
Os gritos vindos da ribeira ouviam-se agora mais
intensamente que nunca, e já não parecia um choro humano… A mulher fixou nele
um olhar triste e respondeu-lhe:
- Não, os meus filhos graças a Deus estão todos em casa… O
que lá anda é o medo… e anda a chamar alguém… vá pra casa António, antes que o
apanhe a si…
O meu avô foi para casa e fechou a porta à chave. “Aquilo”
chorou toda a noite e durante as três noites que se seguiram.
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Bem-vindos...
Este é um blog para se ler à noite, sozinho e de preferência com as luzes apagadas... mas pode deixar uma vela acesa, se quiser...
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